How to Keep your Family Safe & Sane during the Crisis
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by D. Lourenco
19/03/2020
Aspectos Psicológicos da Imigração
by D. Lourenco
(Article published in Portal Londres on 08/11/2018)
A forma e motivo pelo qual imigramos, como chegamos e como somos recebidos, determinará o relacionamento que teremos com o novo habitat.
O deslocamento poderá acontecer como uma imposição e uma necessidade, muitas vezes até de vida ou morte, como nos casos de refugiados políticos, vítimas de guerras ou desastres naturais. Este movimento pode ser chamado de imigração forçada.
Já a imigração voluntária envolve um certo grau de livre arbítrio, na escolha do novo local de residência e com quem e quando se vai. Esta seria a situação de pessoas que se mudam por motivos socioeconômicos, em busca de um futuro melhor. Porém, em muitos casos essa distinção entre imigração voluntária e forçada é mais difícil de ser feita, pois o imigrante socioeconômico poderá sentir que ele também não teve escolha, se considerarmos fatores como a pobreza, falta de oportunidades de trabalho, conflitos familiares etc.
O que e quem deixamos para trás também influenciará nossa adaptação ao novo espaço – se deixamos entes queridos, se dividimos a família entre os que ficam e os que vão ou se saímos com mágoas ou com vínculos danificados. Estes aspectos estão totalmente entrelaçados às nossas expectativas da “terra prometida”. Podemos vir com esperança, com vontade de aprender, de explorar e se inserir na nova cultura. Ou podemos chegar com raiva, derrotados, ressentidos e com medo de não sermos bem recebidos.
O psicanalista e psiquiatra Arturo Varchevker usa o conceito de Imigração Interna e Externa para descrever estes dois movimentos que ocorrem em paralelo e que dependem um do outro. A externa irá mobilizar uma reação mental e emocional e, para a Imigração ser bem sucedida, teremos que considerar o movimento interno que cada um de nós faz quando efetua-se mudanças.
O imigrante irá se deparar com inúmeras incertezas em sua trajetória e, reconhecer o relacionamento que terá com seu processo de deslocamento, é essencial para uma reorganização emocional nesta nova etapa da sua vida. Falhar nesta tarefa será se deparar com um “exílio interno”. Este exílio interno o incapacitará de lidar com suas ansiedades, perdas e incertezas, que a imigração externa certamente trará. (Varchevker, 2013).
O processo imigratório está interligado ao conceito de identidade e o relacionamento que temos com nós próprios e o meio em que vivemos. Nosso papel e lugar dentro de conceitos que reconhecemos como nossos, como nossa cultura, etnia, religião e grupos sociais ao qual pertencemos serão questionados. Imigrar é desafiar nosso próprio senso de identidade.
Referências:
Varchevker, A. (2013). Enduring migration through the life cycle. Karnac Books Ltd.
O Que Mais Podemos Dizer?
by Daniela Lourenco & Eunice Tome (Journalist)
17/10/2018
O que mais podemos dizer sobre a violência sexual, quando meio milhão de adultos ainda sofrem assédio sexual na Inglaterra e País de Gales? Por volta de 85.000 mulheres e 12.000 homens são estuprados todo ano. Uma média de 11 estupros a cada hora. Uma em cada cinco mulheres sofre alguma forma de violência sexual em sua trajetória de vida (1). No Brasil, um estupro a cada 11 minutos foi registrado em 2015 (2).
O que mais podemos dizer nesta era de #metoo, #timesup e #elenao, onde a violência contra mulheres e meninas ainda atinge números amedrontadores? Onde mulheres são as maiores vítimas de violência doméstica; onde sete mulheres por mês são assassinadas por ex ou atuais parceiros na Inglaterra e País de Gales (3). No Brasil, de acordo com um boletim epidemiológico (4), divulgado pelo Ministério da Saúde, houve um aumento de 83% nas notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes entre 2011 e 2017. A maioria ocorrendo mais de uma vez e dentro de casa, sendo os agressores pessoas do convívio, em geral familiares da vítima.
Quando a prática barbárica da mutilação genital feminina ainda é executada em inúmeros países, e em muitos ainda sendo aceita culturalmente, com pouquíssimos casos de processo contra seus praticantes.
Onde a violência de gênero e o crime de honra ainda persistem numa sociedade movida pela intolerância e o ódio coletivo. Numa sociedade onde a mulher e a menina são as maiores vítimas. Onde a menina é denominada puta e o menino garanhão pelo mesmo comportamento. Onde ainda precisamos de um dia no ano para comemorarmos o Dia da Mulher.
O que mais podemos dizer sobre desigualdade, quando nossa orientação sexual, gênero, cor e religião nos define como amigos ou inimigos, bons ou maus, mais do que nosso caráter, honestidade, índole, bondade e tolerância com o outro e suas diferenças?
O que mais podemos dizer, quando nossas bocas são caladas, nossos corpos violados, nossos filhos violentados e nos sentimos impotentes perante o controle e poder do outro?
Com todas essas indagações não podemos nos calar, pois as evidências e números falam mais alto sobre o caos em que vivemos. E ainda podemos dizer muito, muito mais.
Mas um alento veio recentemente de dois ganhadores do Prêmio Nobel da Paz - a ativista iraquiana Nadia Murad, de 25 anos, e o médico congolês Denis Mukwege, de 63 anos. Ela foi escravizada pelo estado islâmico, desde 2014, quando foi capturada pela facção e submetida a estupros diários e outros abusos. Ele por tratar vítimas de estupros, na sua função de ginecologista e tem sido o símbolo principal da luta para pôr fim ao uso da violência sexual em guerras e conflitos armados.
Essas são somente duas vozes que saltam nessa multidão de horrores. Vamos fazer coro com elas.
References:
(1) https://rapecrisis.org.uk/statistics.php
(2) http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/10o-anuario-brasileiro-de-seguranca-publica/
(3) ONS (2016), March 2015 Crime Survey for England and Wales (CSEW)
(4) http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2018/junho/25/2018-024.pdf
Precisamos falar sobre Suicídio
by D. Lourenco
(Article published in Portal Londres on 10/09/2018)
“Minha dor é tão grande que a única saída é deixar de existir. Deixar de sentir, de pensar, de respirar”.
Hoje se comemora o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
De acordo com estatísticas coletadas pelo Samaritans, mais de 800.000 pessoas no mundo cometem suicídio a cada ano. No Reino Unido e República da Irlanda houveram mais de 6.000 casos em 2017, sendo o maior índice cometidos por homens na faxia de 25-34 e 45-49 anos de idade.
Falar sobre suicídio ainda é um tabu nos meios sociais, em nossas relações mais íntimas e até mesmo entre os profissionais da saúde. Muitas vezes acham que se falarmos ou perguntarmos sobre o tema, vamos estar colocando estes pensamentos na cabeça das pessoas, criando assim um problema que não existia. Mas este entendimento não é correto e não previne o mal. O que pode prevenir é exatamente o oposto – falarmos abertamente sobre o suicídio. Estarmos disponíveis para ouvir sem julgamento ou tentarmos resgatar a pessoa que está sofrendo. Para isso, precisamos lidar com nossos próprios medos e ansiedades que este tema nos gera.
É difícil saber ao certo o que leva uma pessoa a pensar em tirar sua própria vida, mas as causas mais comuns seriam: doenças mentais, como depressão, distúrbio bipolar e esquisofrenia; experiências traumáticas, como abuso sexual infantil, violência doméstica, vítimas de conflito, guerra; abuso de drogas e álcool; desemprego; isolamento social e solidão; problemas de relacionamentos; perdas e luto; problemas financeiros; bullying e cyber bullying para as gerações mais jovens, entre outras.
Como vemos, todos nós podemos potencialmente ser afetados por essas questões no decorrer da vida. E nós, como imigrantes morando longe da terra mãe e sem o apoio de familiares e amigos, somos ainda mais propensos aos vários fatores descritos acima. Portanto, não devemos temer uma conversa franca sobre o suicídio. Poder falar abertamente será, na verdade, um alívio.
Além da Maternidade (Beyond Motherhood)
by D. Lourenco
(Article published in Mamães Brasileiras pelo Mundo on 10/09/2018)
Você foi desejado, criado, esperado.
Somos um só, unidos por um cordão que nos nutre e que nunca se romperá.
Somos sangue do mesmo sangue e nunca mais estarei só.
E chega a hora de nos separarmos.
Você me rompe, me estraçalha para se tornar um outro.
Mas você ainda é meu.
Meu corpo e alma te alimentam.
E nos unimos agora pelo olhar, num momento de êxtase, onde já existem dois.
E o outro vem para nos separar, nos ajudar.
Neste momento enlouquecedor de total simbiose,
Onde perco minha identidade, perante a intensidade do nosso amor.
Mas sinto falta de ser livre,
Desejo o silêncio, a quietude solitária.
Resgatar meu corpo e pensamentos.
Você é um carma e uma benção.
Um parasita que me suga com suas demandas narcísicas.
Você me destitui e me dá diretrizes,
E dançamos esse tango entre o amor e o ódio.
Quero voltar a ser mulher, amante,
Não somente sua, seu espelho, sua escrava.
E quando vamos dormir, ambos exaustos, você olha nos meus olhos e diz ‘Eu te amo’.
E o mundo se silencia, escutando o som do seu corpo cansado, da sua mente ainda trabalhando.
E sei que morreria e mataria por você.
Olho para você já adormecido e sussurro no seu ouvido ‘Eu te Amo, filho’.
Este poema foi inspirado nos relatos de inúmeras mulheres que tive o privilégio de conhecer no decorrer dos anos, como também em minha experiência pessoal.
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